segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A DIVERSIDADE DAS CORES



 Presente em todas as culturas dos quatro cantos do mundo, o Arco-Íris é por excelência o símbolo da diversidade, da pluralidade e da beleza de sermos diferentes.
         Em mitologias diversas, distintos horizontes culturais e religiões, esse curioso fenômeno ótico da natureza aparece sempre associado à esperança, renovação dos tempos, tolerância, paz e amor.
         Na bíblia é o sinal da aliança de Deus com os homens, para os antigos nórdicos, a ponte que liga o Céu à Terra, para muitos povos ameríndios é a corroboração que o universo inteiro está em movimento, funciona por ciclos e está em constante renovação.
         Associado ao ciclo da água, o Arco Íris surge imponente no Céu quando, após a chuva, rompem, desafiadoramente, os raios do Sol. A chuva, tão esperada em culturas agrárias, traz a esperança e a certeza da manutenção da vida. A água, que é vida, transita pelos três mundos: infiltra-se no subsolo e aflora em delicadas nascentes, tornar-se caudaloso rio, evapora e sobe aos céus, agora é nuvem e assim fica até cair de volta na Terra como a chuva, surgindo o Arco-Íris no céu e voltando a água para as profundezas da Terra e dali re-iniciar o ciclo.       
         Fora o aspecto estético e mágico do arco de sete cores, sua lição sobre a diversidade provém que nele, o azul é sempre o azul; o verde é o verde; o vermelho, vermelho, amarelo, amarelo; laranja é laranja; violeta será violeta e o azul celeste é celeste. Cada cor possui suas qualidades particulares mas somente todas juntas compõem a beleza do Arco-Íris, harmonicamente, em pé de igualdade e expressando a poética força sinérgica de todos serem um. Um arco, um símbolo, mas composto de sete cores, onde se faltar um, será outra coisa, não mais um Arco-Íris.
         Sete cores, o sete que é o número da divindade, o número de Deus, da perfeição, o Arco-Íris, portanto é sagrado, é o triunfo da beleza presente na diversidade e como tal deve ser admirado, defendido e amado.
         A diversidade das cores representa a diversidade humana. Nossas diferenças não serão obstáculos para a unidade de sonhos e utopias. A diferença não nos desagrega, separa, segmenta, a diferença é o que nos une, assim como o Arco-Íris.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O ENCONTRO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO COM A VIRGEM DE GUADALUPE!



 
Presidente da Irmande de Nossa Senhora do Rosário dos Arturos e Mayas de Chiapas, em Tlalpan-DF, México!   
Em abril de 2008, Durante o Festival Ollinkan de Culturas de Resistência, em Tlalpan, México-DF, representantes da Comunidade dos Arturos (agrupamento familiar, na região metropolitana de Belo Horizonte e formado pelos descendentes de africanos remanescentes de quilombo), realizam três apresentações na região metropolitana da cidade do México. A principal manifestação cultural dos Arturos é o congado, onde, nas Festas e ocasiões solenes, tocam seus Tambores Sagrados em louvor de Nossa Senhora do Rosário.
Tambor mexicano antigo escupido com uma águia e um condor!
Esse evento ocorreu 40 anos após os dramáticos e transcedentes acontecimentos envolvendo Regina, a Rainha do México! (Para saber mais:  kawribas.blogspot.com.br)
 A terceira e última apresentação dos Arturos, no Bosque de Tlalpan, foi encerrada com a multidão, emocionada pelos toques dos Tambores Sagrados do Congado, gritando “BRASIL”! Junto com a resposta dos brasileiros no palco ao microfone: “MÉXICO”! Após esse momento mágico, os Arturos fizeram questão de visitar a Basílica da Virgem de Guadalupe, onde se emocionaram ao contemplar a imagem da Santa, milagrosamente estampada há mais de quinhentos anos no manto do índio Juan Diego. Para o Brasil, protegida dentro de um tambor, veio uma imagem da Virgem mexicana, que hoje se encontra no altar da capela da Comunidade, em Contagem-MG.
Os Arturos em frente à Igreja do Rosário, próximo a Tlalpan.


Uma antiga profecia indígena mexicana diz que a Cura da Terra estaria bem próxima quando o milho começassem a nascer com as quatros cores desse alimento sagrado: vermelho, amarelo, negro e branco, juntas na mesma espiga. Para alguns, as cores simbolizam os indígenas, asiáticos, africanos e europeus unidos como humanidade!             
   Essa visita da ancestralidade afro-brasileira ao coração do México indígena ancestral foi um evento transendental! Um Sagrado Encontro de Nossa Senhora do Rosário com a Virgem de Guadalupe!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PLANTAS E LUGARES DE PODER – Uma Visão Xamânica

Palestra realizada durante o Encontro Técnico "PAISAGISMO REGENERATIVO - Jardim, Um Lugar de Poder", nos dias 26 a 28 de outubro de 2012, em Nova Petrópolis-RS.

PLANTAS E LUGARES DE PODER – Uma Visão Xamânica
Ka W. Ribas
Xamanismo é o nome dado à primigênia forma do ser humano se conectar ao sagrado, suas origens remontam a 40 ou 50.000 anos atrás, no período paleolítico. A palavra tem origem na Sibéria, e passou a ser usada pelos antropólogos para definir um conjunto de práticas ancestrais de cura, êxtase, devoção e conexão com o transcendente. Esse conjunto de práticas é encontrado em todo o mundo, o que transforma o xamanismo em um fenômeno universal essencialmente humano.
Por sua antiguidade, o xamanismo pode ser considerado a mais antiga prática espiritual da humanidade, em seus fundamentos está o reconhecimento do sagrado e transcendente, o respeito pela ecologia, a relacionalidade e interconectividade de tudo, a necessidade de expansão da consciência humana e a comunicação com outros mundos, dimensões e realidades.
O aspecto ecológico do xamanismo surge como o resultado do princípio de relacionalidade onde nada existe isolado, toda manifestação, fenômeno ou ser está conectado e interage com todos os outros aspectos da realidade ou realidades. Ele é fruto do estudo meticuloso, interação e aprendizado do ser humano com o “livro” sagrado de todas as tradições xamânicas: a Natureza!
“Os ancestrais xamânicos viviam em harmonia e equilíbrio com todos os seres, pedras, plantas, animais, pássaros, peixes e até insetos. Para garantir sua sobrevivência em ambiente hostil, os homens primitivos interpretavam os sinais e as mudanças da natureza a seu redor. Viviam de acordo com os ciclos do Sol e da Lua, das mudanças das estações, das manifestações da natureza, com o vento, a chuva, etc.” Leo Artese
Essa profunda, íntima e simbiótica conexão do xamanismo com a natureza o converte em uma espiritualidade ecológica ou, se preferir, em uma ecologia espiritual!
Talvez seja por isso que nos dias de hoje, em pleno século XXI de tecnologias cada vez mais alucinantes/alucinadas, o xamanismo e as práticas e tradições xamânicas estejam tão “em alta”! Isso porque o rompimento ou a ilusão de rompimento do ser humano com a natureza estão causando tanto dano às pessoas e ao planeta, que o xamanismo apresenta-se como um caminho espiritual coerente e atrativo ao anseio pelo reequilíbrio nas relações entre a espécie humana e o seu entorno!
Na visão xamânica, o equilíbrio é alcançado por meio de relações saudáveis. Relações saudáveis são aquelas baseadas no respeito e na reciprocidade. E relações saudáveis devem ser estabelecidas em todos os níveis, com todas as formas de vida e todos os seres!
Assim, “caminhar” com equilíbrio, harmonia e beleza é estabelecer relações saudáveis com os outros seres humanos, consigo mesmo, com os deuses, divindades e potências cósmicas, com a natureza e os reinos mineral, animal e vegetal.
E aí entram as plantas, o Reino Vegetal!
Na Tradição Tetzkatlipoka, do México, guardiã da antiga sabedoria dos Toltekas e Astekas, o propósito mais elevado e nobre que um ser pode aspirar é SERVIR! Ainda segundo essa tradição essencialmente xamânica, as plantas são consideradas seres mais evoluídos que os humanos, pois exercem com maestria esse propósito!
Para o povo Maia, com sua milenar tradição ainda viva e vigorosa em regiões do sul e sudeste mexicano, Honduras, Belize, Guatemala e El Salvador, quando é realizada uma Assembleia que definirá algo de importância para toda a Comunidade, são consultados não apenas os seres humanos, mas toda a Comunidade não humana, como os rios, lagos, animais, montanhas e as árvores e plantas!
Na tradição xamânica das regiões andino-amazônicas, não há doença, enfermidade ou mal que não tenha uma planta capaz de curá-la! Acredita-se que se uma doença manifestou-se nesse plano de realidade, a Pachamama (Mãe Terra) providenciará seu remédio, o que pode acontecer é que esse ainda não seja conhecido! Nesse caso, é função do especialista, o xamã, se conectar com os espíritos da Natureza e descobrir que planta é e como prepara-la para a cura!
No xamanismo, as plantas e o Reino Vegetal são utilizados de diferentes formas, porém o respeito, reverência e carinho com que as plantas são tratadas são notórios! Um xamã se comunica com as plantas, ou com o espírito que a habita, e a utiliza na preparação de objetos cerimoniais, alimentos rituais, remédios, poções e bebidas mágicas e uma infinidade de outras formas e meios.
Há certas espécies de plantas que gozam de um status especial dentro das tradições xamânicas ao serem veículos de profunda conexão com o sagrado, cujo uso pode inclusive gerar estados de consciência expandidos e que são muitas vezes chamadas de “Plantas de Poder”. Atualmente é utilizada a expressão enteógeno, de raiz grega, cujo significado pode ser entendido como “deus interior”.
Huachuma - Cactus de San Pedro em Ollantaytambo-Peru
 Existem uma infinidade de Plantas de Poder, algumas dessa extensa lista são a Ayahuasca ou Yagé (uma bebida feita a partir do cipó Banisteriopsiscaapi e da folha da Psycotriaviridis), a Coca (Erythroxyloncoca), a Jurema (Mimosa hostilis), o Peyote (Lophophorawilliamsii), o San Pedro ou Huachuma (Trichocereuspanachoi), o Tabaco (Nicotianatabacum / Nicotianarústica), a Cannabissativa, os cogumelos Amanita muscaria, Strophariacubensis e Teonanácatl (Psilocybemexicana) e muitas e muitas mais!
Muitas vezes tratadas como “drogas”, algumas dessas plantas sagradas são legalmente proibidas em diversos países e seu uso ritual é distorcido, transformando a experiência mística em pura diversão, profanando a sua sacralidade. Esse é um tema polêmico, mas que tem que ser abordado para que, por ignorância, desinformação ou preconceito, plantas medicinais, curativas e mágicas deixem de ser “satanizadas”, mal utilizadas, e perseguidas ao invés de serem tratadas com o devido respeito e seriedade que merecem.
Além da ingestão, Plantas Sagradas sempre estiveram presentes em pontos especiais da Mãe Terra, lugares sagrados, chamados de Lugares de Poder.
Os Lugares de Poder, no xamanismo, são locais especiais que se destacam pela sacralidade, configuração paisagística e física, importância mítica e histórica, invulgar intensidade e qualidade energéticas. Nesses lugares foram erigidos templos, altares e demarcados espaços rituais e paisagísticos onde estão presentes as plantas.
Lugar de Poder em Casa Branca-MG, com presença de uma árvore guardiã chamuscada por um raio.

 Muitas vezes é a presença de uma árvore chamuscadaou queimada por um raio, mas viva, que indica o lugar de poder, noutras vezes se plantava uma espécie especial ou planta de poder para indica-lo e para que a energia e poder da planta interagisse com o local.
É o caso dos terraços de plantação dedicados ao deus Sol na Tradição Inka da Cordilheira dos Andes, onde eram plantados alimentos sagrados como o Milho e a Quinua, além da Coca e outras plantas sagradas para esse povo andino. Nos Lugares de Poder, santuários e templos inkas, também se encontrava sempre presente a Chachacon (Senecio eriophytop) e a Pisonay (Erythrina falcata), árvores sagradas, cuja a primeira demarca de forma bem evidente, pelas condições de sua casca e florescimento, as estações do ano e a segunda,pelo seu grande potencial energético, foi adaptada da selva amazônica para as alturas andinas. Ainda hoje, em inúmeros sítios sagrados na região andina, estão presentes essas duas espécies de árvores, no caso da Pisonay, algumas foram plantadas pelos próprios inkas antes da conquista europeia!
 Gigantesca e centenária Pisonay (Erythrina falcata) plantada pelos inkas na praça do povoado de Andahuaylillas, próximo a Cuzco.

No que diz respeito à relação dos seres humanos com a Natureza e o Reino Vegetal, há uma lição singela e belíssima encontrada ainda hoje na Tradição Andina que é ter como principal templo e Lugar de Poder do camponês indígena, a “chacra”, ou seja, o campo de cultivo, onde a Mãe Terra, generosamente, concede suas dádivas e bênçãos em forma de alimentos! Ali os Runa Kuna (seres humanos) rezam e realizam rituais propiciatórios de chuvas, agradecem cerimonialmente a fertilidade e fartura da Terra e reverenciam com profundo respeito às potências e forças do Céu e da Terra, às montanhas, aos rios e nascentes, ao espirito das plantas e à própria Pachamama. Para essas pessoas, o ciclo agrícola é inteiramente ritualizado, havendo um Calendário Sagrado que demarca, por meio de cerimônias e ritos, os principais momentos como preparar a Terra, semear, proteger o desenvolvimento das plantas (inclusive conversando com elas para lhes dar estímulo) e, finalmente, a colheita, que é celebrada por meio de uma oferenda de agradecimento, que, simbolizando um alimento ritual, será “entregue” para a Mãe Terra e cumprirá o dever ético e cósmico da lei da Reciprocidade, que no universo andino é conhecida como Ayni.
Ainda na região andina, é muito utilizado como “protetor” o cacto San Pedro ou Huachuma, uma Planta de Poder milenar da região que, além de ingerido em rituais e sessões xamânicas, proporcionando curas, visões, expansão da consciência, êxtase espiritual e contato com o mundo espiritual, acumula a função de proteção energética e espiritual de uma residência ou estabelecimento comercial.Por isso é encontrado na entrada das casas, semelhante a outras plantas como o a Espada de São Jorge, Arruda e Guiné, cujo uso com essa finalidade é bastante conhecido e difundido no Brasil.
Análogo ao San Pedro, na América do Norte encontramos o cacto Peyote, que é uma importante Planta de Poder para inúmeras tradições xamânicas. O seu Lugar de Poder, por excelência, é no deserto de Wirikuta, no norte do México, onde alguns povos indígenas como os Huichole realizam, anualmente, uma peregrinação sagrada ao deserto para encontrarem a este ser e o colherem para ser utilizado em seus rituais e cerimônias. Assim como oSan Pedro, alguns xamãs também plantam o cacto em seus jardins para que o espírito da planta energize e abençoe todo o ambiente. A mesma coisa acontece com outras Plantas de Poder como o Tabaco (que quando nasce espontaneamente no jardim de um xamã é um sinal de benção) e a Ayahuasca, havendo templos e igrejas das religiões que o fazem uso como sacramento, com belos jardins compostos pelo cipó chamado de Mariri ou Jagupe e arbustos da Chacrona ou Rainha.
Todos esses exemplos e lições de tradições ancestrais xamânicas nos mostram como o Reino Vegetal tem sido, no decorrer de todo o processo da evolução do ser humano, seu imprescindível aliado, fonte de cura, sabedoria e proteção. Hoje, mais do que nunca, coerente com a visão xamânica do tempo como um círculo ou espiral e não uma linha contínua, o retorno da sabedoria das antigas tradições leva-nosà reflexão e ao resgate de uma relação além da matéria e do físico com as plantas.
Quantas pessoas, intuitivamente, por saberem em seu interior e com a sabedoria que transcende a limitação da mente racional que se pode e é saudável comunicar-se nesse plano com as plantas! O ato de “falar” com as plantas, na visão xamânica é, muito além de aceitável, um hábito saudável e recomendável, é um fundamento para se estabelecer uma relação harmônica e equilibrada com o Reino Vegetal.
Essa relação toma em conta o espírito das plantas e sua sacralidade enquanto manifestação de um poder, potência ou deus cuja essência de vida está presente em todos os seres, é acessível a todas as pessoas e encontra-se presente em templos, santuários, Lugares de Poder e, inclusive,no seu próprio jardim!
 Gratidão Toni Backes e toda a Equipe do Encontro Técnico!